segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Tempo e memória

Por Caroline Bacelar, Isadora Canela, Mariana Elian e Mayara Wermelinger



      A pós-modernidade, a partir de suas novidades e inovações tecnológicas, alterou a sociedade em diversos aspectos. Uma das principais modificações foi em relação à alteração das noções de tempo e espaço. Segundo o teórico cultural Stuart Hall, as novas combinações de espaço-tempo são as principais características da globalização.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Gui Tuo Bei, o Monumento

Por Pedro Lavigne


      Nas duas oportunidades em que visitei Inhotim, não pude conter a perplexidade que o monolíto do artista chinês Zhang Huan me desperta. Em ambas as visitas fiquei maravilhado com a imponência de sua escultura: Gui Tuo Bei. A obra consiste em uma coluna de pedra de aproxidamente 6 metros e meio de altura, mas em sua base vemos o rosto do próprio artista preso ao corpo de uma tartaruga. A expressão de esforço no rosto do artista é tão impactante que quase vemos a tartaruga se mexer. 

Intervencionando: a arte como meio para questionar e transformar a vida urbana cotidiana

Por Bruna Guimarães e Jéssica Miranda

           Uma das manifestações artísticas do século XXI, as intervenções artísticas nos ambientes urbanos, trouxeram novas possibilidades visuais que antes não eram exploradas ou sequer imaginadas. Esse processo se refere a uma interferência artística no espaço urbano e é voltada para uma experiência estética que procura produzir novas maneiras de perceber o cenário urbano e criar relações afetivas com a cidade.  As intervenções variam nas suas estruturas, mas pode ter um apelo reflexivo, político-social, didático, confrontador, ideológico ou simplesmente humorístico.

             Nossa intervenção aconteceu em uma manhã chuvosa de sexta-feira e o local escolhido foi a praça da Igreja Matriz, que assim como em tantos outros munícipios do interior, em Viçosa também é vista como o coração da cidade. Um grande número de pessoas circula ali todos os dias e nesta sexta encontraram algo diferente pelo caminho.

       

Das políticas às micropolíticas - Kátia Canton

Por Gabriel Novais
 
Discutimos diversos temas ao longo da disciplina de Temas de Arte Contemporânea. Durante o semestre nos perdemos e nos encontramos seguindo bem o poeta Manuel de Barros.

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“Desaprender oito horas por dia ensina os princípios. 
As coisas não querem ser vistas por pessoas razóaveis.
Elas desejam ser olhadas de azul - que nem uma criança que olha a ave”
Uma Didática do Inventar
          
Qual o papel da arte? Perguntamo-nos em silêncio. Ela é pessoal? Ela é coletiva? Política? Ela simplesmente é. Kátia Canton, em sua coleção de livros à respeito da arte contemporânea, sugere que “ela provoca, instiga e estimula nossos sentidos, descondicionando-os, isto é, retirando-os de uma ordem preestabelecida e sugerindo ampliadas possibilidades de viver e de se organizar no mundo”

Das Políticas às micropolíticas, um dos volumes desta coleção, trás exatamente esta infinidade de formas de “se organizar no mundo”. Canton em uma entrevista com o jornalista político  James Spitzcoviszky expõe o cenário globalizado em que vivemos - pós-guerra fria. “Fazer política hoje já não é mais fazer política como nos anos que marcaram o século XX. As ideologias entraram em crise, os partidos entraram em crise, então agora as pessoas procuram formas alternativas de fazer política e expressar seus pontos de vista”, ressalta Spitzcoviszky. A arte é uma delas.

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Rosana Paulino, artista plástica paulistana, é uma das personalidades que Canton compila neste volume. Focada no papel da mulher negra, seu desafio tem sido “pensar em minha condição no mundo por intermédio de meu trabalho. Pensar sobre as questões de ser mulher, sobre as questões da minha origem, gravadas na cor da minha pele, na forma dos meus cabelos. Gritar, mesmo que por outras bocas estampadas no tecido ou outros nomes na parede”. Para ela “a questão da individualidade é muito importante em meu trabalho, por que a política é pessoal, a arte é pessoal”.

 Eduardo Srur é quinto artista apresentado por Canton. Suas intervenções são conhecidas por aproximar a arte contemporânea do cotidiano das pessoas. A utilização de locais públicos como objeto lhe trás questões de direito. “O trabalho exige do artista velocidade mas às vezes é necessário pedir autorizações. Nesse caso atuei sem autorização, por que eu modifiquei o conteúdo dos outdoors. Eu ataquei a imagem deles, afinal, ninguém pergunta se pode pôr propaganda da sua rua, então eu da mesma forma os ataquei”, conta ele em entrevista.

O volume se encerra com o filósofo, professor e coordenador do grupo de teatro Ueinzz.Em sua fala retornamos ao inicio de nossas discussões. “Creio que poderíamos considerar a arte como ferramenta importante na fabricacao de uma multiplicidade de subjetividades, contanto que ela mantenha viva sua capacidade de afetar, que ela articule nossos pensamentos e expanda nossa potencia de criar sentidos para o mundo”, conclui ele.

A arte contempla a tudo que sente, que vibra. Desaprender, como diz Manuel de Barros, é o que ela nos propõe.


A utilização da arte para tratamentos psiquiátricos


Betânia Pontelo


O texto Manifestações artísticas: práticas e representações sobre a saúde mental no contexto da reforma psiquiátrica, de Patricia Reinheimer, trata de um assunto particularmente conhecido para mim. Sou de Barbacena-MG, a famosa “cidade dos loucos” e recebeu esse nome devido ao número de hospícios instalados na cidade e a fama que ganharam.
Sempre que me perguntam se lá é mesmo a cidade dos loucos, eu respondo que não, lá é a cidade onde cuidamos dos loucos que vem de outros lugares. O tom é de brincadeira, mas o assunto é sério, e uma das coisas que ajudou a acabar com os hospícios transformando-os em clínicas psiquiátricas, foi justamente a arte, como a autora cita no texto “o debate muda de foco e deixa de ser sobre a defesa dos mecanismos de proteção jurídica à pessoas com déficit ou perturbação, e passa a se constituir uma discussão sobre os mecanismos jurídicos que possibilitem a inclusão civil e social de pessoas com características especiais”.
Durante toda minha infância acompanhei desfiles de carnaval promovidos pelas clínicas psiquiátricas e fui percebendo a importância daquela manifestação cultural na saúde dos doentes. Como a inteiração com o ambiente externo fazia bem e, de fato, contribuía para uma melhora de comportamento e reação aos tratamentos.
Alguns anos depois, tive a oportunidade de acompanhar exposições de trabalhos manuais, artesanais e pinturas realizadas por pacientes da penitenciária psiquiátrica localizadas na cidade, e pude ver a sensibilidade e clareza com que aquelas pessoas que, muitas vezes são excluídas da sociedade, viam o mundo e a realidade ao seu redor.
A autora do artigo ainda ressalta a facilidade com que classificamos certos grupos e que muitas vezes não conseguimos retirar as opiniões preconceituosas para fazer um julgamento leal, como bem ressalta “é ‘fácil’ ser qualquer coisa, difícil é não ser enquadrado somente nas classificações genéricas, estatísticas que homogeneízam diferenças individuais”.
Além da importância social da arte nesses casos, tem também a importância pessoal, orgânica onde muita vezes aquelas pessoas que passavam o dia esperando a próxima dose do remédio se veem estimuladas e incentivadas a praticar outras atividades, a ativarem outras partes do cérebro, como a criatividade por exemplo, que há muito estava esquecida.

"Pode ser que você ainda não tenha se dado conta disso, mas o fato é que todas as coisas belas do mundo são filhas da doença. O homem cria a beleza como remédio para o seu medo de morrer. Pessoas que gozam de saúde perfeita não criam nada. Se dependesse delas, o mundo seria uma mesmice chata. Por que haveriam de criar? A criação é o fruto do sofrimento" - Rubem Alves


Land art: o que é?

Júlia Pellizzari, Pedro Cursi e Pedro Lavigne

A Land Art, também conhecida como Earth Art ou Earthwork é um tipo de arte onde o terreno natural é alterado pelo homem, tornando-se ele mesmo, a própria obra de arte. Grandes partes de terra são removidas e recolocadas em novos locais, alterando profundamente a paisagem natural.

A Land Art surgiu no final da década de 60, em parte como consequência de uma insatisfação crescente em relação a monotonia cultural, em parte como expressão de um desencanto relativo à sofisticada tecnologiada cultura industrial, bem como ao aumento do interesse às questões ligadas à ecologia. O conceito estabeleceu-se numa exposição organizada na Dwan Gallery, Nova York, em 1968, e na exposição Earth Art, promovida pela Universidade de Cornell, em 1969.


Exemplo de uma obra de Land-art

É um tipo de arte que, por suas características, não é possível expor em museus ou galerias (a não ser por meio de fotografias). Devido às muitas dificuldades de colocar-se em prática os esquemas de land art, suas obras muitas vezes não vão além do estágio de projeto. Assim, a afinidade com a arte conceitual é mais do que apenas aparente.
Dentre as obras de land art que foram efetivamente realizadas, a mais conhecida talvez seja a Plataforma Espiral (Spiral Jetty), deRobert Smithson (1970), construída no Grande Lago Salgado, em Utah, nos Estados Unidos



Lugar e não lugar

Lugar é o espaço de pertencimento, de conforto, onde há a relação de formação identitária, histórica...
O não lugar é a outra polaridade disso, onde não há relação identitária. É o espaço de passagem, virtual.

A artista Josely Carvalho se baseia nessas ideias para seu processo de criação.
Sempre viajante e morando um tempo em cada local, Josely conta, em entrevista, que "sentia que vivia em um país que não era meu, que eu não reconhecia como meu". Até que, diz ela, "me dei conta de que nenhum deles era meu e nenhum deles eu queria que fosse meu". A artista percebeu, então, que existe a possibilidade de não ter um lugar, quando se percebe que todos os lugares são de passagem.
A partir disso, ela desenvolve trabalhos relacionados a tartaruga tracajá, que carrega seu casco para onde quer que vá. O casco se relaciona à casa, ao corpo, ao lugar e não lugar simultaneamente, ao espaço, à força e à proteção.


 

Josely também desenvolve trabalhos como o Livro das Telhas -  http://bookofroofs.com - , uma instalação virtual colaborativa, que busca transformar esse espaço da telha, do abrigo, como um espaço gerador de sentido.


Público e Privado 

Para Katia Canton, a arte tem um papel muito importante em descondicionar os nossos sentidos. Atráves da arte, os significados nos são apresentados de diferentes formas, reestruturados em ordens diferentes das convencionais. Isso nos estimula a percebe-los e organiza-los, nos estimula a questionar e a construir nossa visão de mundo.

Na contemporaneidade, é muito comum o estudo e a preocupação com a relação do espaço e da vida pública com a privada. Vivemos hoje numa sociedade em que é cada vez mais tênue a a fronteira que separa essas duas esferas da vida. Por um lado vivemos num mundo globalizado onde a vida pessoal e as informações são, progressivamente, mais públicas. Por outro, com o aumento da criminalidade e da violencia urbana temos espaços que são, por sua vez, deixados de lado, causando uma diluição no sentido de espaço público.  É possível indentificar uma série de conflitos que surgem da relação do público e do privado na contemporaneidade. Como nos mostra Katia Canton, o grafite é uma forma eficiente de furar esse paradigma dos espaços públicos que se tornam “espaços de ninguém”.


A supressão das distâncias

Paul Virilio, urbanista e pensador francês, em seus estudos sobre política e velocidade, fala da poluição dromosférica. Essa poluição, segundo ele, é causada pela amplificação da eletro-ótica e acústica ao longo do nosso dia-a-dia, o que torna tudo mais rápido por achatar o espaço em que as experiências acontecem.
Com o achatamento do espaço, a experiência do deslocamento, do percurso, dos lugares por onde passamos também é diminuída. Com isso, diminui-se a percepção subjetiva... que diminui a sensibilidade, a arte, o cuidado. E assim aumenta a ideia de produtividade, do racional acima de todo o resto.

A artista Brígida Baltar tenta enxergar o lugar no não lugar, lançando um olhar afetivo e sensível sobre as coisas. Em um de seus trabalhos, ela condensa e coleta coisas “incoletáveis” como neblina, orvalho, maresia e os guarda em receptáculos. O objetivo da obra é alargar o tempo da memória, tão diminuído na contemporaneidade.



Segundo a artista, o trabalho é mais existencial do que estético e, com isso, ela busca a contemplação da subjetividade.




A conhecimento de ambiental nas artes

Michael Maia

Conceito de arte ambiental segundo o crítico Harold Rosenberg é quando “todos tipos de estímulos e de forças induzidas mecanicamente influem sobre o espectador, fazendo dele não mais um espectador, mas, por vontade ou por força, um participante e às vezes um criador.”.  
Esse termo entrou para o mundo das artes no século XIX, podendo hoje designar a várias obras e também movimentos diversificados. São obras que extrapolam as suas linguagens, podendo utilizar da música, escultura, pintura, literatura etc. O espaço da galeria muitas vezes é pequeno para uma obra deste conceito, por isso muitas vezes ela se instala e dali não sairá, devido ao grande tamanho e material pesado utilizado. Como na imagem, da estrutura de Vladimir Tatlin.



Percebe-se nos anos 60 que o movimento de ambiental, significava uma fuga dos museus “caixas fortes” e arriscar o artista a pensar em novos lugares, e confrontar o espectador com novas obras. Três grandes nomes se destacam no conceito, Beuys, Oticica e Smithsom.
Pode se afirmar que os três artistas possuem obras que são além do “particular”, não como objetos autônomos mas as esculturas consideradas como lugares. Como no caso da obra de Helio Oticica:





As grandes mulheres que (não) fizeram história na arte brasileira

                                                                                                                                     Thalita Fernandes



Em meio a tantas lutas e manifestações feministas em busca pela igualdade de gênero, vemos ainda, dois extremos: a desvalorização da mulher, sendo subjugada, tratada como inferior; e a busca por reconhecimento que por vezes se mostra exagerada, afetando até mesmo sua visão de conduta.
Eu acho que cada um tem que ser um pouco feminista. Não saindo pela rua com os seios a mostra em manifestações, mas buscando suas conquistas na sociedade através da imposição por respeito, pela mostra de valores e principalmente pelo trabalho.
Bom, tratando desse aspecto, o texto de hoje é “Os gêneros da arte: mulheres escultoras na belle époque brasileira” da autora Ana Paula Simioni. A escolha do texto se deu pela recorrência do tema. Ainda lutamos por reconhecimento do trabalho feminino, mas essa busca pela conquista de um espaço começou há tempos.
Dois nomes são muito citados ao longo do artigo: Julieta de França e Nicolina Vaz de Assis. O motivo? Mulheres com um pensamento muito a frente de seu tempo, capazes de destacar-se em meio aos homens pela capacidade e dedicação pela arte no Brasil em pleno século XIX. Infelizmente nenhum dos dois nomes é tão conhecido hoje em dia. Se você digitar “Julieta de França” no Google, não encontrará quase nada. Mesmo assim, vale a pena pesquisar mais um pouquinho e saber a fundo sobre essas duas mulheres que foram as percussoras nas artes plásticas e no meio acadêmico brasileiro.
Ambas foram mulheres que enfrentaram os preconceitos na academia e se matricularam nas disciplinas de artes plásticas para fazer disso sua profissão – o que até então era considerado passatempo para as mulheres. Mesmo com o título de “amadoras” conseguiram sair do Brasil e ficaram cerca de cinco anos estudando na Académie Julian, França. Nicolina foi financiada por seu marido e Julieta conseguiu uma bolsa de estudos pela Enba, onde estudava.
Voltaram para o Brasil em busca de fazer história, mas isso não aconteceu. Em uma disputa pela melhor maquete homenageando a República brasileira, Julieta não obteve sucesso, e não satisfeita com o resultado, reivindicou seus direitos, contrapondo a sociedade machista da época. Infelizmente Julieta bateu de frente com o diretor Rodolfo Bernardelli que controlava quase todas as transações do ramo artístico na época e isso desencadeou o fim das obras e sucesso de uma grande escultora brasileira.
Nicolina foi um pouco mais cautelosa e obteve mais sucesso. Em meio a tantos homens, se destacou por sua sensibilidade, não contrapôs ninguém e seguiu com seu trabalho, mostrando sua força. Hoje tem como grande obra a Fonte Monumental, situada na Praça Júlia Mesquita em São Paulo.

Esse é o exemplo de duas mulheres que batalharam seu espaço e merecem ser lembradas. Além disso, servem de inspiração para nós, mulheres que vivem em uma sociedade contemporânea, com tecnologia do século XXI e cabeça do século XIX.