segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Arte do tempo e da memória

Marcelle Louise
A sociedade contemporânea vive um momento de “crise” do tempo, muito marcado pela supressão espaço-tempo e supervalorização do presente. Essas relações, segundo Kátia Canton em seu livro Tempo e Memória, influenciam a produção artística, que se volta para a evocação da memória.
Nesse sentido, alguns artistas propuseram obras sobre a memória de tempos internos, focada nas pequenas coisas. Um exemplo disso é o vídeo Between – inventário de pequenas mortes, em que o artista mineiro Cao Guimarães retrata detalhes insignificantes do cotidiano.
O artista paraibano José Rufino também trabalha a memória, mas a partir da própria história de sua própria família, utilizando móveis antigos para compor suas obras. Em uma série, ele retrata as sensações que estão nas lembranças dele da infância: “respirar”, “gritar”, “lacrimejar” e “suar”.

José Rufino. Respiratio, 1995. 

Outra série do artista chamada Cartas de Areia é construída com cartas endereçadas ao avô, o verdadeiro José Rufino (o nome do artista também evoca a memória da família). A obra retrata registros de histórias de amor, solidão, sentimentos universais e que estão presentes na memória não só da família dele. Isto faz com que as pessoas interajam com ela de alguma forma e sintam-se parte dela. 

José Rufino. Cartas de Areia, 1991. 


Em 2003, José Rufino foi diretor de arte do filme curta-metragem Transubstancial , uma homenagem ao poeta também paraibano Augusto dos Anjos. No filme, Rufino compõe uma poética de imagens com a criação de vastos territórios da memória transitando entre a invenção e a reconstrução.

Preocupada com questão do tempo, da falta de tempo, a artista Sandra Cinto criou instalações com esculturas que servem como bancos, com o propósito de fazer com que as pessoas se sentem e tentem compreender o trabalho. Ela utiliza objetos íntimos do nosso dia a dia como a cama, a mesa, que, para ela, são símbolos da memória.



Sandra Cinto. Exposição “Imitação da Água”. 

Sandra Cinto acredita que o desafio do artista contemporâneo é fazer com que as pessoas parem para ver suas obras, se envolvam. Segundo ela, é preciso refletir sobre o passado para viver o presente e isso só pode ser feito com a preservação da memória.